quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Um pouco de História
Matéria publicada no Jornal Folha da Região no ano de 2008
Já mostra o trabalho que a muitos anos trilhamos em defesa da preservação
do património ferroviário que faz parte de nossa historia
Jorge Napoleão Xavier
Sexta-feira - 25/01/2008 - 03h01

Jorge Napoleão Xavier é advogado, professor de Direito no Unitoledo e membro do IBCCrim. Jornalista, escreve neste espaço às sextas-feiras, como colaborador da Folha da Região.


`Furtada´


O jovem José Fernando Bacelar trabalha com modelismo ferroviário: é apaixonado pelos trens, locomotivas, vagões, trilhos, dormentes, tirefonds. Não se conforma com o menosprezo com que o governo federal, desde FHC, trata a rede ferroviária do País, um arremedo ridículo do que outrora foi a partir da coragem empreendedora do Visconde de Mauá.

Para quem não sabe ou não se lembra, o gaúcho Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, ou Barão de Mauá, ficou órfão de pai aos cinco anos. No Rio de Janeiro, aos 11 anos, já trabalhava como contínuo, aos 15, era o empregado de confiança do patrão. Aos 23, já era sócio da firma escocesa onde trabalhava. Aos 27 anos, viajou até a Inglaterra, visitando fábricas, fundições de ferro e muitos empreendimentos comerciais importantes. Industrial, banqueiro, político e diplomata: símbolo dos capitalistas empreendedores brasileiros do século 19. Iniciou os negócios com uma fabriqueta de navios em Niterói.

Em um ano, detinha a maior indústria do País, com mais de mil operários, e produzia navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de água. Organizou companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas; em 1852, implanta a primeira ferrovia brasileira, entre Petrópolis e Rio de Janeiro, e uma companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro, em 1854. Dois anos depois, inaugura o trecho inicial da União e Indústria, primeira rodovia pavimentada do País, entre Petrópolis e Juiz de Fora. Em sociedade com ingleses e cafeicultores paulistas, participa da construção da Recife and São Francisco Railway Company; da ferrovia dom Pedro II (atual Central do Brasil) e da São Paulo Railway (hoje Santos-Jundiaí). Inicia a construção do canal do mangue no Rio de Janeiro e é responsável pela instalação dos primeiros cabos telegráficos submarinos, ligando o Brasil à Europa. Fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia., com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Nova Iorque, Buenos Aires e Montevidéu. Estava muito rico aos 40 anos, mas faliu: faleceu em Petrópolis, em 21 de outubro de 1889.

Bem: com a interferência do ex-gerente de banco e hoje gráfico Clarindo Ferreira, bom humor constante, dono de um enorme coração e pai do expert em cirurgia das mãos, o médico Pedro Paulo, José Fernando trouxe a Arquivo um exemplar do periódico organizado por Edson Vilaça de Oliveira Júnior, que esmiúça a trajetória das ferrovias brasileiras, transcrevendo trecho do livro "História de Uberaba", de 1974, de autoria de José Mendonça, da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Diz José Mendonça que um fato sempre lhe chamou a atenção por tratar-se de um capítulo constrangedor para Uberaba. Abre aspas: "A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma das mais importantes vias férreas do País, que faz a riqueza e o progresso do Noroeste Paulista, deveria ter sido construída a partir de Uberaba, rumo a Coxim, no Estado do Mato Grosso. Denominar-se-ia Estrada de Ferro Uberaba-Coxim. Contou Carlos Batista Machado que chegaram a ser feitos os estudos e a localização da estrada.

Veio a Uberaba uma brilhante comissão de engenheiros, notando-se entre eles o dr. Paulo Souza (chefe), que trouxe uma carta de Bento Quirino ao referido sr. Carlos Batista Machado, solicitando-lhe seu apoio e seu auxílio para a comissão, e, particularmente, para o portador. Carlos Machado forneceu-lhe um 'guleiro', que atendia por 'Tonico Mensagem'.

Mas a política nos fez perder a estrada.

Rodrigues Alves, na presidência da República, comprometeu-se com o Governo de Minas a eleger Afonso Pena como seu sucessor, desde que a estrada de ferro para Mato Grosso se construísse no Estado de São Paulo. Houve a troca, e a Noroeste é hoje uma das mais poderosas alavancas do admirável progresso de São Paulo". Fecha aspas.

Araçatuba, pelo que afirma José Mendonça, por pouco, muito pouco, quase não nascia em 1908: não se tinha até agora qualquer conhecimento de que a famosa NOB, que deu berço e raízes à cidade e tornou-se realmente o orgulho destes rincões das beiras do Paraná, foi "furtada" de Minas Gerais no começo do século 20.

Pena que a alavanca Estrada de Ferro Noroeste do Brasil de que fala com tanto entusiasmo o escritor mineiro, já não mais exista como dantes: é realmente uma caricatura daquilo que foi.

Continua a tua luta, Zé Fernando: quem sabe um dia a Maria Fumaça volta para realegrar a meninada e alavancar outra vez o "passo à frente" de que falava o Marechal Cândido Rondon?